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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Carne

Todos os dias
eu como a sua carne.
Eu deixo a sua carne entre os meus ossos da boca.

Todos os dias
com meu dedos engordurados
eu misturo as células mortas com as papilas gustativas.

E eu nem penso mais.

Todos os dias
eu assisto a televisão.
E eu não mudo de canal.

Todos os dias
eu misturo as minhas papilas gustativas às suas.
Sem nenhuma intimidade.
São apenas negócios.

Todos os dias
eu arranco o cereal da terra.
Eu como a terra.
Não ligo para a terra.

Eu nem penso mais.

Viva está a decadência.
Dentro do oco de mim.
Eu nem penso mais.

Comendo, comendo comendo.
Doendo, doendo, doendo.
Morrendo, morrendo, morrendo.
Crescendo, crescendo crescendo.

Todos os dias
eu olho sentada.
E não levanto.
E sou apenas eu.

Todos os dias
eu sou suja.
E acho que sou limpa.
E acho que sou.


Viva está a decadência.
Dentro do oco de mim.
Eu nem penso mais.

Comendo, comendo comendo.
Doendo, doendo, doendo.
Morrendo, morrendo, morrendo.
Crescendo, crescendo crescendo.

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